Em novo longa de Fuqua, qualquer semelhança não é mera coincidência

Jake Gyllenhaal and Oona Laurence star in SOUTHPAW.

Quem não se lembra do medíocre lutador de boxe da Filadélfia, que trabalhava como capanga de um agiota e obteve a grande oportunidade de lutar contra o campeão mundial dos pesos-pesados. Esse era o plot principal de Rocky, Um Lutador, Rocky (1976) escrito e estrelado por Sylvester Stallone. O filme foi sucesso de bilheteria e levou três Oscars: o de Melhor Filme, Diretor e Edição e imortalizou a música  Gonna Fly Now, produzida por Bill Conti e que alcançou o primeiro lugar da revista Billboard.

Difícil também é se esquecer do filme O Campeão, The Champ (1979), dirigido por Franco Zeffirelli, remake do filme de mesmo nome dirigido por King Vidor, no inicio da década de 30. O remake de Zeffirelli trazia no elenco Jon Voight, Faye Dunaway e Ricky Schroder. O longa conta a história de Billy Flynn (Jon Voight), um ex-lutador de boxe que trabalha como adestrador de cavalos. Ele ganha  o suficiente para manter a si próprio e seu filho T.J. (Rick Schroder), o qual ganhou a custódia de sua ex-esposa Annie (Faye Dunaway) sete anos atrás. Visando ter um futuro melhor para o garoto, Billy aceita a oferta de retornar aos ringues.

O filme tornou-se conhecido pela famosa seqüência final na qual T.J presencia a morte do pai, logo após o seu último combate. Schroder em uma inspirada atuação, poucas vezes presenciada nas telas, leva às lágrimas qualquer mortal ao vê-lo se despendido do pai.

Quando o assunto são filmes de boxe é praticamente impossível não citar o clássico dos clássicos Touro Indomável, Raging Bull (1980) dirigido por Martin Scorcese e estrelado por Robert De Niro no papel de Jake LaMotta. O longa valeu o Oscar de Melhor Ator para De Niro por sua impecável caracterização do pugilista peso-médio, filho de imigrantes italianos, que com a mesma rapidez que alcançou o sucesso na carreira, destruiu sua vida particular em razão do seu  comportamento violento, possessivo e auto-destrutivo.

Para os amantes de filmes de esporte, mas especificamente os adoradores da nobre arte, como é conhecido o boxe, estreiou no último final de semana no Reino Unido e República da Irlanda, Nocaute, Southpaw (2015) que narra a história de Billy “The Great” Hope (Jake Gyllenhaal), um lutador que no auge da carreira e da vida pessoal é surpreendido por um terrível golpe do destino, quando perde sua esposa Maureen Hope, vivida por Rachel McAdams. A tragédia muda o rumo da história e, após ter a filha levada para os cuidados do Serviço Social, Billy, então, é forçado a lutar para reconquistar o amor e o respeito de sua filha na sua incansável busca por redenção.

O longa é dirigido por Antoine Fuqua conhecido por rodar thrillers de ação entre eles filmes de guerra, conspiração e crime. Fuqua ganhou notoriedade internacional ao dirigir o pungente retrato de um policial veterano e corrupto vivido por Denzel Washington no brilhante Dia de Treinamento, Training Day (2011). O filme rendeu a Washington o merecido Oscar de Melhor Ator.

A cada novo trabalho de Fuqua espera-se como resultado algo próximo do realizado anteriormente em Dia de Treinamento. Infelizmente em decorrência de suas escolhas isso não acontece.

Desde então, tornou-se predominante a opção do cineasta por filmes que em sua maioria abordem temáticas semelhantes, dentre as quais a repetitiva alternância de histórias em que envolvam agentes secretos à serviço do governo norte-americano como, por exemplo, na versão Duro de Matar em Invasão a Casa Branca, Olympus Has Fallen (2013) e O Protetor, The Equalizer (2014) , além de histórias protagonizadas por soldados do exército norte-americano em missão de resgate como em Lágrimas do Sol, Tears of the Sun (2003) e Atirador, Shooter (2007).

Se por um lado em Nocaute, Fuqua já demonstre algum, ainda que sem muita efetividade, lampejo da retomada da sua melhor forma desde Dia de Treinamento, por outro lado o novo longa-metragem do diretor norte-americano torna-se refém da pouca originalidade do roteiro, que nada mais é do que uma mistura óbvia, com pequenas variantes, entre dois filmes, Rocky, Um Lutador e O Campeão, citados acima.

As seqüências de luta relembram, e muito, o filme estrelado por Stallone com a exacerbada super valorização dos golpes, que remetem nitidamente mais às lutas de artes márcias mistas do que o próprio boxe. Os 15 rounds de duração da luta, hoje reduzidos para 12, permanecem os mesmos dos tempos de Rocky Balboa, e claro que não poderia faltar o sofrimento do lutador em busca de superação frente aos infortúnios da vida, que no caso das histórias de lutadores de boxe, funciona como uma metáfora da árdua luta do pugilista também fora dos ringues.

Ainda que, guardadas as diferenças e proporções, a relação entre o personagem Gyllenhaal e seu drama para reconquistar a guarda da filha, tem a mesma funcionalidade como fio condutor da trama quando se analisa o relacionamento entre o personagem de Jon Voight e seu filho T.J vivido por Rick Schroder em O Campeão. Isso porque, no longa de Zeffireli, o personagem de Voight havia ganhado a guarda do filho ao contrário do que ocorre com o personagem  principal em Nocaute.

Já Jake Gyllenhaal vem provando a cada trabalho estar cada vez mais apto para encarar diferentes personagens, até mesmo os que requerem uma significativa transformação física.

Gyllenhaal ganhou fama internacional pelo seu trabalho em O Segredo de Brokeback Mountain, Brokeback Mountain (1997) no qual interpretou um vaqueiro que se apaixona por um colega  do mesmo sexo no ano de 1963. O filme retrata o complexo relacionamento do casal no período de dezoito anos. O filme venceu o Leão de Ouro no Festival de Veneza, além dos prêmios Bafta, Globo de Ouro e o maior número de indicações para o Oscar daquele ano, inclusive a de Melhor Ator Coadjuvante para Gyllenhaal.

À partir de então, o ator norte-americano alternou fiascos como Príncipe da Pérsia: As Areias do Tempo, Prince of Persia: The Sands of Time (2010) baseado no jogo eletrônico de mesmo nome e filmes que obtiveram relativo sucesso junto ao público e aclamado pelos críticos como em Zodíaco, Zodiac (2007) e O Abutre, Nightcrawler (2014).

Gyllenhaal, embora apoiado por um seleto grupo de atores competentes, entre eles Rachel McAdams e o premiado Forest Whitaker, é a pequena Oona Laurence, que interpreta Leila Hope, a filha do personagem de Gyllenhaal, que dá o tom dramático do filme. Ambos, apesar de inseridos em um roteiro com características de novelão mexicano, se sobressaem por suas atuações pontuadas e equilibradas, mantendo mesmo que por poucas vezes, a produção distante do excesso dos filmes do gênero.

É fato que Nocaute agradará aos fãs de filmes de luta e àqueles que gostem de produções dramáticas. É fato que Fuqua continuará contaminado pelo virtuosismo exagerado impregnado nos efeitos especiais e de edição na condução de suas produções, haja vista, as seqüências de luta em Nocaute. E é fato também que Fuqua, mesmo com indícios de retomar caminhos diferentes em seu novo trabalho, afastando-se dos filmes de que abordem quase sempre um mesmo tema, ainda permaneça aquém de seu mais elogiado trabalho.

No Brasil, Nocaute tem estréia prevista para o mês de Setembro.

(Pedro Giaquinto)

Sem trazer novidades para o gênero, diretor dinamarquês realiza faroeste arroz com feijão

The Salvation

É de consenso geral que os filmes de faroeste são por excelência um gênero criado pelo cinema norte-americano. Apesar de não serem politicamente corretos, fizeram história durante muitas décadas.

Inúmeros atores e atrizes, como também diretores e produtores, se consagraram dentro do gênero repleto de sangue, tiroteios, assassinatos, donzelas em perigo, mocinhos, bandidos e incríveis seqüências de perseguições à cavalo, em histórias nas quais a vingança e a honra eram a lei do Oeste americano.

Entre os muitos filmes do gênero destaca-se No Tempo das Diligências, Stagecoach (1939) dirigido por John Ford, considerado por muitos o melhor cineasta do gênero. Ford também assinou a direção de outros clássicos do cinema de cowboy, entre eles, Rio Bravo, Rio Grande (1950), Depois do Vendaval, The Quiet Man (1952), Rastros de Ódio, The Searchers (1956) e O Homem que Matou o Facínora, The Man Who Shot Liberty Valance (1962) todos estrelados pelo ator norte-americano John Wayne, ícone e grande astro dos filmes de faroeste.

Vale ainda destacar a altamente recomendável obra-prima Era Uma Vez no Oeste, Once Upon a Time in the West (1968) dirigido por Sergio Leone, que certamente tornou-se um dos diretores mais emblemáticos do gênero. O cineasta italiano ainda popularizou um subgênero de filmes de western, chamado Spaghetti Western ou Bang-bang à italiana, como ficaram conhecidos no Brasil. Subgênero este, que nada mais era do que filmes realizados com pouco aporte financeiro, baixa qualidade e falados em italiano. Entre os mais conhecidos filmes do faroeste à italiana está a trilogia dos doláres Por um Punhado de Doláres, A Fistful of Dollars (1964), Por uns Doláres a Mais, For a Few Dollars More (1965) e Três Homens em Conflito/ O Bom, o Mal e o Feio, The Good, The Bad and the Ugly (1966) dirigidos por Leone e estrelados por Clint Eastwood com as famosas e inesquecíveis trilhas sonoras de Ennio Morricone.

Certamente devido às novas tecnologias e o pouco interesse pelos caubóis do passado, os filmes de faroeste se transformaram de um gênero tão aclamado entre as décadas de 40, 50 e final dos 60 à um gênero em extinção nos dias atuais, ainda que, por rarissimas vezes é lembrado por um ou outro filme que retoma o tema do vaqueiro errante do velho oeste americano contra os temidos foras-da-lei, como retratado no bom Pacto de Justiça, Open Range (2003) dirigido, produzido e estrelado por Kevin Costner ou em O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford, Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford (2007), estrelado por Brad Pitt.

Entre esses e outros esporádicos lançamentos de filmes de faroeste, estreiou no Reino Unido e República da Irlanda, The Salvation (2014), que narra a história de Jon (Mads Mikkelsen), um pacífico colono dinamarquês na América de 1870, que mata o culpado por assassinar sua mulher e filho. Para a infelicidade do pacato colono, o homem assassinado era irmão do líder de uma famosa e temível gangue local. Para sobreviver em meio à fúria dos foras-da-lei, Jon é forçado a caçar a gangue com as próprias mãos.

O longa não traz grandes nomes no elenco, à exceção da atriz francesa Eva Green da série Penny Dreadfull (2014) , 007- Cassino Royale, Casino Royale (2006) e Sin City: A Dama Fatal, Sin City: A Dame to Kill For (2014), além do veterano ator britânico Jonathan Pryce de Brazil – O Filme, Brazil (1985) e Evita, Evita (1996) e o ex-jogador de futebol o francês Eric Cantona, que acreditem ou não, é dono de uma extensa carreira como ator.

The Salvation é dirigido pelo dinamarquês Kristian Levring, que diga-se de passagem, não se preocupou em acrescentar algo novo ao gênero. A produção tem todos os ingredientes de um bom filme de mocinho e bandido com seqüências de ação características dos filmes de caubóis, um personagem de poucas falas, um vilão inescrupuloso e sedento por vingança, cenários belíssimos que nos remetem aos velhos e inesquecíveis filmes de um tempo distante, quando o gênero era sucesso entre público e critica.

Levring ganhou internacional notoriedade por ter dirigido O Rei Está Vivo, The King is Alive (2000), quarto filme do movimento cinematográfico criado em 1995 pelos cineastas dinamarquês Lars Von Trier e Thomas Vinterberg, que ficou conhecido como Dogma95. O manifesto continha dez regras de cunho técnico e ético entre elas, uma série de restrições quanto ao uso de tecnologia nos filmes como uso de iluminação especial ou música ou posterior edição de som.

Entre o seu filme produzido dentro do Dogma95 e The Salvation, seu último longa-metragem, foram-se 10 anos e apenas mais dois filmes realizados sem nenhuma projeção na mídia especializada, The Intended (2002) produzido no Reino Unido e Fear Me Not (2008), uma produção dinamarquesa. Ambos os filmes não foram lançados no Brasil.

O filme de Levring cumpre seu papel como um mediano filme do gênero. Para os amantes dos bons e velhos filmes de faroeste, The Salvation os presenteia com a nostalgia de outrora e a dura e crua verdade dos tempos atuais onde os filmes de cowboy estão reduzidos à produções sem sentido como Cowboys & Aliens (2011) ou na péssima comédia Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola, A Million Ways to Die in the West (2014).

The Salvation ainda não tem previsão de estréia para o Brasil.

(Pedro Giaquinto)

Em fraco drama, Jennifer Aniston se reinventa como atriz e surpreende em atuação inspirada

Cake

Muitos são os casos de atores, vistos com maus olhos pela critica, por suas atuações medíocres frente à filmes voltados para o grande público, que em sua grande maioria, transitam entre os gêneros da comédia e ação. Na verdade, esse filão de produções não está interessada em debater ou expor idéias em contexto intelecto-filosóficos, limitando-se à recorrentes e repetitivas formas de extrair o riso fácil de seus espectadores.

Alguns atores permanecem dentro de um determinado gênero, estagnados em sua zona de conforto até o fim de suas carreiras. Todavia, outra parte, buscando novos desafios dentro da profissão, se aventuram em filmes com conteúdos “mais sérios” no intuito de reafirmarem-se como “atores de verdade”,  na tentativa de serem vistos aos bons olhos dos críticos.

A grande maioria dos que se arriscaram em dar um novo rumo às suas carreiras não decepcionaram, haja vista, o sucesso dos últimos anos de atores que se consagraram após deixarem de lado o cinema pipoca.

Entre os muitos que se reinventaram na profissão pode-se destacar o ator norte-americano Matthew McConaughey, que após inúmeros filmes direcionados ao público feminino, amantes do gênero comédia romântica, McConaughney aos poucos foi se livrando do estigma de ator de um só gênero até culminar na avalanche prêmios vencidos durante o ano de 2013, devido sua inspirada interpretação do caubói soro positivo em Clube de Compras Dallas, Dallas Buyers Club (2013). Outro que ganhou recentemente certa notoriedade com a leva de filmes concorrentes ao último Oscar, foi o também ator norte-americano Steve Carrell, conhecido por suas atuações limitadas em filmes do gênero comédia entre eles, Uma Noite Fora de Série, Date Night (2010) e Amor à Toda Prova, Crazy, Stupid, Love (2011). Em Foxcatcher – Uma História que Chocou o Mundo, Foxcatcher (2014), Carrell está irreconhecível na pele do milionário John du Pont, em uma atuação perfeita.

Entre as mulheres a atriz sul-africana Charlize Theron fez com que público e crítica se rendessem ao seu talento no filme Monster – Desejo Assassino, Monster (2003) e afirmar de uma vez por todas que ela não era só mais um rostinho bonito dentro da indústria de cinema norte-americana. A atriz recebeu diversos prêmios por sua interpretação baseada na vida real de uma ex-prostituta que foi sentencia à morte por seus assassinatos em série no final da década de 80 e início dos anos 90.

A atriz norte-americana Sandra Bullock é outro exemplo do sucesso alcançado em decorrência da mudança de rumo na carreira. Bullock surgiu para o grande público no início dos anos 90, devido ao estrondoso sucesso de bilheteria do filme de ação Alta Velocidade, Speed (1994), estrelado por Keanu Reeves.  Três anos depois, a atriz estrelaria a fraca continuação do blockbuster em Velocidade Máxima 2, Speed 2: Cruise Control (1997), dessa vez sem a participação de Reeves no elenco. Todavia, Bullock sempre buscou novos direcionamentos na carreira, alternando diferentes gêneros entre eles comédias, dramas e romances. Outros filmes de pouca expressão junto ao público e crítica se sucederam na carreira da atriz como o fraco Forças do Destino, Forces of Nature (1999). Bullock voltaria a se encontrar novamente com Keanu Reeves em A Casa do Lago, The Lake House (2006) e estrelou comédias de pouca expressão junto a crítica, embora com grande sucesso diante do público como a comédia Miss Simpatia, Miss Congeniality (2000) e a continuação Miss Simpatia 2: Armada e Poderosa, Miss Congeniality 2: Armed and Fabulous (2005). Em 2009 a crítica voltou-se os olhos para Bullock na produção Um Sonho Possível, The Blind Side (2010), filme que lhe rendeu o Oscar de Melhor Atriz no ano seguinte. Bullock ainda foi indicada mais uma fez ao Oscar da categoria no elogiado Gravidade, Gravity (2013).

Outra atriz que parecia ter aceitado sua posição como uma atriz de um só gênero foi Jennifer Aniston. A atriz norte-americana estabeleceu-se na carreira na década de 90 com a personagem Rachel Green no sitcom americano Friends (1994-2004), que rendeu 10 temporadas na televisão norte-americana. Outros filmes sem expressão alguma se sucederam na carreira da atriz como Todo Poderoso, Bruce Almighty (2003) ao lado de Jim Carrey, Caçadores de Recompensa, The Bounty Hunter (2009) e Quero Matar Meu Chefe, Horrible Bosses (2011), filme que rendeu uma continuação de mesmo nome no ano passado.

Entretanto a atriz parece ter tomado novo rumo na carreira ao estrelar o drama Cake – Uma Razão para Viver, Cake (2014). O filme estreiou no mês passado nos cinemas do Reino Unido  e República da Irlanda.

No filme, Aniston vive Claire Bennett, uma mulher traumatizada e depressiva, que busca ajuda em um grupo para pessoas com dores crônicas. Lá, ela descobre o suicídio de um dos membros do grupo, Nina (Anna Kendrick). Claire fica obcecada pela história desta mulher e começa a investigar a sua vida. Aos poucos, começa a desenvolver uma relação inesperada com o ex-marido de Nina, Roy (Sam Worthington).

Este é o quinto filme dirigido por Daniel Barnz, que notoriamente tem o universo feminino enraizado dentro de sua filmografia. É verdade que Barnz não tenha feito muito barulho com suas produções anteriores. Certamente o diretor norte-americano tenha obtido seu maior triunfo  com a produção escrita e dirigida por ele em A Menina no País das Maravilhas, Phoebe in Wonderland (2009), que diga-se de passagem, não passa de uma vergonhosa cópia da famosa história infantil escrita por Lewis Carroll, Alice no País das Maravilhas. O filme foi exibido, antes de sua estréia em circuito comercial, na mostra competitiva do badalado Sundance Filme Festival.

Em seu recente trabalho, Barnz confirma ser um diretor limitado e refém do estilo e gênero aos quais se propôs a trabalhar. O maior defeito em Cake é dar vazão às aparições da suicida em diversos momentos na vida da personagem interpretada por Aniston, que em um primeiro momento soa extremamente estranho e sem sentido, embora no decorrer da projeção a esquisitice da primeira sensação continue a mesma. O problema vivido pela personagem de Aniston, que até então não nos fora revelado, toma contornos diferentes quando a mesma decide buscar explicações para o suicídio de Nina.

Barnz não consegue dominar suas duas problemáticas dentro do filme, onde os problemas propostos ao invés de serem resolvidos, anulam-se pelos subterfúgios fugazes usados pelo diretor para contar a história do trauma da perda da personagem de Aniston, que gradativamente se perde no transcorrer do filme.

Vale ressaltar também a má utilização do excelente e premiado ator William H. Macy, em uma desnecessária seqüência, que ocupa menos de cinco minutos na projeção, numa tentativa de ilustrar os transtornos psicológicos enfrentados pela personagem principal, já à esta altura entendidos pelo público. E em meio destes problemas insolucionáveis, esta Jennifer Aniston que se sobressaí heroicamente.

Não há dúvidas de que a personagem vivida por Aniston tenha exigido ao máximo da atriz em termos de interpretação, se pensarmos que Aniston, na maioria de seus trabalhos, levou às telas ela por ela mesma, com alguma ou outra variante.

Em Cake, Aniston faz com que esqueçamos a atriz mediana de outros tempos. Sem exagerar ou carregar em demasia as emoções da personagem, afastando-se dessa maneira do sentimentalismo piegas da maioria das produções do gênero. A atriz nos mostra, aos 46 anos de idade, o amadurecimento do seu trabalho na profissão. Não é a toa que Aniston entrou para a lista do Oscar dos atores injustamente preteridos a uma indicação na categoria. Talvez com Aniston na concorrência, Julianne Moore, vencedora da estatueta na categoria de Melhor Atriz deste ano, não tivesse vida fácil ou pelo menos as apostas para a vencedora ao prêmio teriam sido divididas por igual.

Resta-nos saber se Aniston não retornará às produções medianas de outrora ou caíra na tentanção de interpretar ela mesma novamente. Se não o fizer, o cinema e o público ganharam imensamente com a nova atriz que acabara de nascer, e por outro lado, a critica saberá se render ao seu talento.

Ao diretor Daniel Barnz, talvez seja o momento para se pensar em mudanças ou pelo menos se aprofundar de uma maneira mais intensa nos temas propostos por ele mesmo, sem isolar da história a essência original da premissa dramática.

No Brasil, Cake – Uma Razão para Viver tem estréia prevista para o mês de Abril.

(Pedro Giaquinto)

A merecida homenagem do cinema à uma das mais célebres mentes do nosso século

TheoryofEverything

Incontáveis foram as adaptações biográficas para o cinema de grandes personalidades da história. Desde personagens bíblicos à imperadores da antiguidade passando por políticos, ativistas e artistas das mais diferentes áreas, já se levou às telas uma infinita gama de pessoas das mais diversas áreas da sociedade.

Em geral, estas personalidades carregam um rico conteúdo biográfico, seja por seus atos heróicos, pela visão à frente de seu tempo, os escândalos ou as mortes prematuras no auge do sucesso ou pelo fato de terem sido vilões ou assassinos que comoveram multidões pelas atrocidades cometidas. Muitas destas personalidades conseguiram presenciar em vida a homenagem que o cinema de uma maneira ou de outra prestou-lhes. Outros não.

O  pastor protestante e ativista político norte-americano Martin Luther King Jr., assassinado no final da decada de 60 é um deles. Evidentemente nessa época Luther King não imaginava que episódios de sua vida se transformariam em filme. Em Selma, Uma Luta pela Igualdade, Selma (2014) com lançamento previsto no Brasil para início de Fevereiro, acompanha as históricas marchas realizadas por ele e manifestantes pacifistas em 1965, entre a cidade de Selma, no interior do Alabama, até a capital do estado, Montgomery, em busca de direitos eleitorais iguais para a comunidade afro-americana.

Outro que não teve tempo para assistir sua trajetória vitoriosa no mundo do automobilismo retratada no cinema, devido sua trágica morte, foi o piloto brasileiro de Formula 1 e três vezes campeão mundial Ayrton Senna, no documentário Senna (2010), dirigido pelo cineasta britânico Asif Kapadia.

No entanto, muitos conseguiram presenciar suas vidas eternizarem-se no cinema. É o caso do matemático norte-americano e vencedor do Nobel de Economia John Nash, hoje com 86 anos, diagnosticado com esquizofrenia.

O cineasta Ron Howard conhecido por filmes como Cocoon (1985), Apollo 13 – Do Desastre ao Triunfo, Apollo 13 (1995) e Código Da Vinci, The Da Vinci Code (2006), levou para o cinema a história do matemático vivido pelo ator australiano Russell Crowe no bom e premiado Uma Mente Brilhante, A Beautiful Mind (2001).

A mais ilustre personalidade da vez, que teve sua vida transformada em filme, foi o físico e cosmólogo britânico Stephen Hawking.

Estreiou no inicio do mês na Irlanda e Reino Unido e com estréia prevista no Brasil para esta sexta-feira, A Teoria de Tudo, The Theory of Everything (2014) baseado na biografia do astrofísico. O filme mostra como o jovem Hawking, vivido por Eddie Redmayne, fez descobertas importantes sobre o tempo, além de retratar o seu romance com a aluna de Cambridge Jane Wide (Felicity Jones) e a descoberta de uma doença motora degenerativa quando tinha apenas 21 anos.

O responsável por retratar a vida de Hawking no cinema é o escritor e roteirista Neo-zelandês Anthony McCarten, que se interessou pela vida do astrofísico depois de ler o best-seller Uma Breve História do Tempo: do Big Bang aos Buracos Negros, A Brief History of Time: From the Big Bang to Black Holes (1988), escrito pelo próprio Hawking. Anos depois, McCarten adaptou o livro Viagem ao Infinito: A Extraordinária História de Jane e Stephen Hawking, Travelling to Infinity: My Life with Stephen (2008), escrito pela primeira mulher de Hawking, Jane Wilde. Além de assinar o roteiro, McCarten também assina a produção do longa.

James Marsh foi incumbido de dirigir a obra. O cineasta britânico é o responsável pelo premiado e altamente recomendado documentário O Equilibrista, Man on Wire (2008) que conta a façanha, do então jovem francês Phillippe Petit, que na década de 1970 com a ajuda de um grupo de amigos, andou durante uma hora sobre um cabo de ferro suspenso entre as duas torres do World Trade Center, em Nova Iorque, sem qualquer equipamento ou rede de segurança. O documentário se consagrou em diversos festivais levando inúmeros prêmios entres eles o Grande Prêmio do Juri no Sundance Festival, o Bafta e Oscar de Melhor Documentário.

Antes de A Teoria de Tudo, Marsh dirigiu o regular Agente C – Dupla Identidade, Shadow Dancer (2012) sobre uma ativista do IRA (Exército Republicano Irlandês) que após um atentado à bomba em Londres acaba por cair nas mãos de um policial do MI5 (Serviço Britânico contra-espionagem). À partir daí ela se torna uma espécie de agente-dupla à serviço da inteligência britânica.

Coube ao ator britânico Eddie Redmayne a responsabilidade de dar vida ao astrofísico Hawking. Embora, Redmanyne não tenha feito personagens de destaque no cinema, o jovem ator tem construído ao  longo dos anos uma premiada carreira no teatro, tendo vencido um Oliver e um Tony Award por Melhor Ator Coadjuvante para a adaptação teatral da peça Red escrita por John Logan, que no cinema roteirizou inúmeros filmes entre eles, O Aviador, The Aviator (2004) e A Invenção de Hugo, Hugo (2011) ambos dirigidos por Martin Scorsese.

Redmayne, apoiado pela também britânica Felicity Jones que interpreta Jane Wilde, primeira mulher de Hawking, dá o ritmo ao filme. O ator personifica brilhantemente o biografado astrofísico britânico, num trabalho corporal e de dicção que beira à perfeição.

Pode se dizer tranquilamente, que o primoroso trabalho de Redmayne, assemelha-se à eximias interpretações poucas vezes vistas no cinema, como por exemplo, a do ator irlandês Daniel Day-Lewis, que interpretou o filho de uma humilde família irlandesa, que acometido desde o nascimento com paralisia cerebral tirando-lhe todos os movimentos do corpo, com a exceção do pé esquerdo. Com o controle deste único membro ele torna-se escritor e pintor.

O filme deu a Day-Lewis projeção internacional e lhe rendeu outros grandes papéis no cinema e inúmeros prêmios. Redmayne, que ganhou diversos prêmios em vários festivais de cinema por sua caracterização como Hawking parece seguir os passos do ator irlandês. O jovem ator britânico recentemente levou o Globo de Ouro para melhor atuação em filme de dramático e concorre no mês que vem ao Oscar como Melhor Ator.

Já a escolha de Marsh para a direção do longa não foi por acaso. O cineasta britânico tem a habilidade em adequar facilmente a trajetória dos seus personagens em perfeita sincronia com a temporalidade histórica na qual estão inseridos, como visto em seus filmes anteriores.

Marsh, em nenhum momento se apressa para contar a história. Não exagera. Com uma direção sóbria e equilibrada, evita acentuar demais o drama do personagem principal, fazendo com que a doença degenerativa do astrofísico não se sobressaía ao homem dotado de uma das mentes mais brilhantes e extraordinárias do mundo moderno.

A Teoria de Tudo, nada mais é do que uma merecida homenagem do cinema à uma das figuras mais importantes da história da humanidade, que contribuiu com incriveis descobertas científicias afim de iluminar as dúvidas que cercam nossa existência.

(Pedro Giaquinto)

Com excelente atuação dos protoganistas, Burton leva às telas a segunda cinebiografia de sua carreira

BigEyes

Giovanni Bastianini, Alceo Dossena, Tom Keating, Wolfgang Beltracchi, Edgar Mrugalla e Elmyr de Hory, o que estes nomes oriundos de diferentes nacionalidades, educados em distintas culturas têm em comum? Todos eles foram talentosos pintores, mas sobretudo, exímios falsários de obras de arte.

O último no nome desta lista de ilustres charlatões do mundo das artes, Elmyr de Hory, foi o protagonista do documentário dirigido por Orson Welles, For Fake – Verdades e Mentiras, For Fake (1974), em que Welles, à partir da história de De Hory, redefine aquilo que se pode ou não chamar a magia do cinema, ou até mesmo a ilusão da legitimidade de toda a arte.

O recente trabalho do aclamado diretor norte-americano Tim Burton, Grandes Olhos, Big Eyes (2014), que estreiou no final do ano passado na Irlanda e Reino Unido narra a história real da pintora Margaret Keane (Amy Adams), uma das artistas mais comercialmente rentáveis dos anos 1950 com os seus retratos de crianças com olhos grandes e assustadores. Keane teve que lutar contra o próprio marido no tribunal, o também pintor e falsificador de quadros, Walter Keane (Christoph Waltz) que afirmava ser o verdadeiro autor das obras de Margaret.

No entranto, esta não é a primera cinebiografia que Burton leva às telas. Anteriormente o cineasta havia dirigido Ed Wood (1994), sobre o personagem-título, considerado o pior diretor de todos os tempos.

O novo longa-metragen do diretor de Os Fantasmas se Divertem, Beetle Juice (1988), Batman, Batman (1988), Batman: O Retorno, Batman Returns (1992), Alice no País das Maravilhas, Alice in Wonderland (2010) entre outros, destoa da maioria de seus filmes. Desta vez o cineasta afastou-se do universo onírico que flerta demasiadamente com o mundo gótico para dar lugar à um filme menos carregado nas cores sombrias e na atmosfera densa e soturna como sempre fora peculiar em toda sua obra.

Por ser tratar de personagens do mundo real, Burton optou por transcrever para às telas a história de uma maneira lacônica, limitando-se aos fatos como eles sucederam. É fácil notar que a escolha de Burton pela história de Margaret Keane traz certa semelhança, guardadas evidentemente as devidas proporções, entre o mundo do cineasta e o da pintora.

Apesar da aguçada veia gótica e sombria impregnada na obra de Burton, o cineasta sempre esteve muito ligado com o universo infantil, o qual Keane, ao longo de muitas décadas, continua pintando. Entre as animações do diretor norte-americano destacam-se A Noiva Cadáver, Corpse Bride (2005) e Frankenweenie (2012) além de O Estranho Mundo de Jack, The Nightmare Before Christmas (1993) sendo este apenas como produtor. Todavia, é claro, suas animações estão repletas de personagens sombrios, envoltos com o lúgubre e o macabro. E não muito longe disso estão os rostos de crianças pintadas por Keane, que também transitam por esse o universo melancólico contido na obra do cineasta.

O acerto na escolha dos protagonistas é outro ponto positivo no filme de Burton. A atriz norte-americana Amy Adams interpreta a pintora Margaret Keane. Adams com sua voz frágil e o olhar meigo e distante dá ao seu personagem tons serenos e os contornos precisos da caricatura de uma mulher submissa aos comandos de um marido autoritário e sem escrúpulos, conseguindo transpor para a tela de forma fidedigna a subserviência da maioria das mulheres que viveram nas décadas de 50, 60. Por sua atuação, Adams levou há duas semanas o Globo de Ouro de Melhor Atriz na categoria Filme Musical ou Comédia. O mesmo ocorreu no ano passado quando a atriz levou o Globo de Ouro na mesma categoria por sua interpretação em Trapaça, American Hustle (2013) no qual viveu uma novata golpista. No mesmo ano também foi indicada para o Oscar pelo mesmo filme, mas não levou a estatueta.

Já o papel do falsário Walter Keane, ficou à cargo do sempre excelente e um dos melhores atores da atualidade, o austríaco Christoph Waltz. O ator mostra-se mais uma vez irrepreensível na composição do seu personagem. Com Keane, Waltz transita facilmente entre o dramático e cômico ou por muitas vezes ambos ao mesmo tempo. É notória sua desenvoltura e habilidade na reprodução do trágico-cômico, que evidentemente tenha sido a vida do real Walter Keane. Sem exageros e dono de uma interpretação singular que se altera gradativamente entre o grotesco e o sublime, Waltz está mais uma vez perfeito. Vencedor de dois Oscars, dois Baftas e dois Globos de Ouro como Melhor Ator Coadjuvante por Bastardos Inglórios, Inglourious Basterds (2009) e Django Livre, Django Unchained (2012), além do prêmio de Melhor Ator no Festival de Cannes em 2009 pelo mesmo Bastardos Inglórios, é uma pena seu nome não ter sido lembrado pelas grandes premiações do cinema no ano passado.

Para o ano que vem Burton já encabeça dois novos projetos. As sequências de Os Fantasmas se Divertem e Alice no País das Maravilhas, este últiimo como produtor.

Por ora, Grandes Olhos, mesmo sem o apelo comercial de outras obras do cineasta, é um filme que merece ser visto, tanto pela grande atuação do casal de protagonistas quanto pelo o heroíco e árduo trajeto na vida da talentosa pintora, que até hoje, aos 87 anos, continua pintando diariamente e suas obras podem ser visitadas em museus de diversas cidades entre elas Tóquio, Madri e Cidade do México.

O filme têm estréia prevista no Brasil para o final do mês.

(Pedro Giaquinto)

Angelina Jolie demonstra talento e competência em seu segundo longa-metragem como diretora

Golden Globes Nominations Snubs and Surprises

O cinema se notabilizou por trazer às telas adaptações de ilustres e heróicas personalidades, sejam elas do próprio universo cinematográfico como no recente drama biográfico Hitchcock (2012), sobre os bastidores do aclamado filme do cineasta britânico, Psicose, Psycho (1960) ou retratar figuras políticas como JFK, A Pergunta que Não Quer Calar, JFK (1991) ou no também recente Lincoln (2012) sobre o icônico presidente norte-americano que lutou bravamente pela abolição da escravidão. A música com os seus célebres personagens como o vocalista Jim Morrison, líder de uma das bandas mais influentes de todos os tempos o The Doors, no longa dirigido por Oliver Stone, The Doors (1991), o saxofonista Charlie Parker levado aos cinemas por Clint Eastwood em Bird (1988) e o pianista e cantor Ray Charles que teve sua história retratada em Ray (2004), entes outros, também tiveram suas histórias retratadas no cinema.

Outras dezenas de peronalidades sejam elas atletas, romancistas, bailarinos, cientistas, ou até mesmo cidadãos comuns, anônimos do grande público, como os poucos sobreviventes dos genocídios ocorridos nos campos de extermínio durante a Segunda Guerra Mundial ou os muitos soldados que foram atirados no campo de batalha para lutarem em guerras sangrentas, todos estes, de uma forma ou de outra, tiveram suas histórias imortalizadas no cinema por seus atos de coragem ou por seus ideiais de justiça e conduta moral frente às questões éticas, raciais e políticas.

O recente trabalho, atrás das câmeras, da atriz e diretora norte-americana Angelina Jolie, é sobre uma destas famigeradas personalidades, que vez ou outra, surgem para nos presentar com lições de bravura e redenção frente às adversidades do destino.

Em Invencível, Unbroken (2014), adpatado do livro Invencível: Uma História de Sobrevivência, Resistência e Redenção, escrito por Laura Hillenbrand, Jolie retrata a história real do atleta olímpico Louis Zamperini (1917-2014), que sofre um acidente de avião e cai no mar. Zamperini luta durante 47 dias para reencontrar a terra firme, e quando consegue, é capturado pelos japoneses durante a Segunda Guerra Mundial.

Essa não é primeira vez que Jolie se aventura atrás das câmeras. A estréia como diretora se deu em Na Terra de Amor e Ódio, In the Land of Blood and Honey (2011) que conta a história de Ajla (Zana Marjanovic) e Danijel (Goran Kostic) que se conhecem em uma boate. De imediato eles começam a flertar um com o outro, mas a explosão de uma bomba acaba com qualquer clima existente entre eles. Era o início da Guerra da Iugoslávia, que colocaria sérvios e bósnios como inimigos mortais.

Em seu novo trabalho, Jolie além de dirigir o longa assina também a produção. O roteiro ficou à cargo da renomeada e premiada dupla de diretores, produtores e roteiristas os irmãos Joel e Ethan Coen, responsávies por obras-primas como Barton Fink: Delírios de Hollywood, Barton Fink (1991), O Grande Lebowski, The Big Lebowski (1998), Onde os Fracos Não tem Vez, No Country for Old Men (2007) entre outros.

Em seu segundo longa-metragem, Jolie apoiada por uma atraente história de superação baseada em um personagem real, cercada por atores competentes e uma produção digna dos grandes filmes do gênero, não desperdiça em momento algum a chance de realizar um excelente trabalho. A cineasta opta por conduzir o filme de maneira equilibrada e sóbria, limitando-se a retratar a vida do seu autobiografado de forma contudente e objetiva, sem se deixar levar pelo sentimentalismo piegas, que muita das vezes destroem uma boa história.

Não é de se estranhar que o tema guerra atraí a atenção de Jolie, haja visto seu fervoroso envolvimento em causas humanitárias, como em seus trabalhos com refugiados, atos estes, que a condecoraram como Embaixadora da Boa Vontade para o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR).

Outro, que de certa maneira pode-se dizer familiarizado com o tema, é o ator britânico Jack O’Connell. Conhecido por interpretar recentemente personagens psicologicamente conturbados, que convivem com a obscuridade do medo em detrimento à possibilidade, por muita das vezes impossível de salvação como retratado nos filmes Starred Up (2013) e ’71 (2013) ambos ainda sem data prevista de estréia no Brasil e que lhe renderam alguns prêmios por suas convincentes atuações. O’Connell, pelo menos agora, devido à sua competente interpretação dada ao personagem principal do longa de Jolie, pode sonhar em voos mais altos dentro da indústria cinematográfica americana. O ator venceu recentemente a premiação realizada pelo Hollywood Film Awards na categoria New Hollywood Award.

Por outro lado, Jolie poderá aparecer na cerimônia de premiação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, o Oscar, não somente como convidada para a festa, mas sim como uma das possíveis candidatas para receber a estatueta, e juntar-se à sua conterrânea Kathryn Bigelow, única mulher na história da premiação a receber o Oscar como diretora. Curiosidades e coincidências à parte, Bigelow recebeu a estatueta há cinco anos pelo filme Guerra ao Terror, Hurt Locker (2008), também um drama de guerra.

Pode-se dizer de passagem, que mesmo se for premiada com a estatueta como Melhor Diretora, essa não será a primeira vez que Jolie receberá o prêmio, guardada é claro, as devidas proporções. Vale lembrar que Jolie venceu o prêmio como Melhor Atriz Coadjuvante, além do Globo de Ouro por sua atuação como uma charmosa sociopata em Garota, Interrompida, Girl, Interrupted (1999).

E ao que tudo indica, Jolie tomou gosto pelo ofício. Ainda esse ano poderemos vê-la novamente atrás das câmeras numa nova produção com o título By the Sea. Além de atuar, produzir e roterizar a obra, Jolie dirigirá a si mesma e seu marido, o também ator Brad Pitt.

Invencível tem estréia prevista no Brasil para o dia 15 de Janeiro.

(Pedro Giaquinto)

Clint Eastwood retorna às telas em adaptação pouco empolgante de musical da Broadway

Jersey Boys

É extensa a lista de atores que se tornaram diretores no cinema. Alguns deles se aventuram por um ou dois filmes, outros porém, incorporam a nova carreira com mais seriedade, realizando trabalhos de qualidade que muitas vezes arrancam elogios dos críticos e de colegas de profissão.

Na grande maioria dos casos os aspirantes ao novo desafio dividem-se entre a direção e a atuação. Robert Redford é um deles. O ator norte-americano foi astro de filmes memoráveis entre as décadas de 60 e 70 entre eles, Butch Cassidy, Butch Cassidy and the Sundance Kid (1969), Golpe de Mestre, The Sting (1973) e Todos os Homens do Presidente, All the President’s Men (1976). Sua estréia como diretor não poderia ter sido melhor. Em Gente como a Gente, Ordinary People (1980), Redford recebeu no ano seguinte o Oscar de Melhor Diretor. O filme ainda levou os prêmios de Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Filme. Seu último trabalho na função se deu no ano passado com o filme Sem Proteção, The Company You Keep (2013), filme no qual também atua.

Outro ator que ganhou certa notoriedade como diretor foi George Clooney. Embora não tenha deixado de lado a atuação, Clooney se destacou atrás das câmeras na direção de longas com temática política, além de dirigir a si mesmo. Realizou o elogiado Boa Noite, Boa Sorte, Good Night, Good Luck (2005). O filme conquistou inúmeros prêmios em diversos festivais e foi  indicado a cinco Oscars entre eles Melhor Filme e Melhor Roteiro Original escrito por Grant Heslov e o próprio Clooney. Além deste, o ator/diretor realizou o também político Tudo pelo Poder, The Ides of March (2011). Clooney também dirigiu Confissões de Uma Mente Perigosa, Confessions of a Dangerous Mind (2002) e O Amor Não Tem Regras, Leatherheads (2008) atuando em ambos. Seu último trabalho como diretor e ator foi no recente Caçadores de Obras-Primas, The Monuments Men (2014).

Outro nome que deve ser lembrado é o de Kevin Costner. O ator tornou-se conhecido mundialmente por sua caracterização como Eliot Ness, no excelente Os Intocáveis, The Untouchables (1987), dirigido por Brian De Palma. Três anos mais tarde, Costner atingiria o ápice de sua carreira em sua estréia como diretor no elogiado Dança com Lobos, Dance with Wolves (1990). Costner além de dirigir o longa, produziu e estrelou a obra como o Tenente John J. Dunbar. O filme foi nomeado à doze Oscars. Venceu sete estatuetas entre elas, Melhor Filme, Diretor, Fotografia, Trilha Sonora e Roteiro Adaptado. Costner, no entanto, não conseguiu repetir o sucesso do seu filme de estréia como diretor e amargou o fracasso nas bilheterias e junto à crítica no fraco O Mensageiro, The Postman (1997), que também produziu e atuou. Já em sua terceira incursão por detrás das câmeras, Costner recebeu elogios da crítica no bom filme do gênero faroeste Pacto de Justiça, Open Range (2003).

Mel Gibson é outro nome que sempre figurará nas listas das agradáveis surpresas de atores que se tornaram diretores. O ator ganhou fama internacional e status de galã de Hollywood entre o início dos anos 80 e final dos anos 90, com os filmes da saga Mad Max e da cinesérie Máquina Mortífera. Como diretor Gibson estreou no filme O Homem Sem Face, The Man Without a Face (1993). Dois anos depois chamaria a atenção da crítica para o drama histórico Coração Valente, Braveheart (1995) no qual além de dirigir, produziu e protagonizou a história do patriota escocês e herói medieval William Wallace responsável por liderar seus compatriotas na resistência à dominação inglesa imposta pelo reinado de Eduardo I no final do século XIII. O filme recebeu dez indicações ao Oscar, vencendo em cinco categorias incluindo Melhor Filme e Melhor Direção. Quase dez anos depois, Gibson dirigiu o polêmico A Paixão de Cristo, The Passion of the Christ (2004). À exemplo de seu filme anterior, Gibson demonstrou enorme talento na condução narrativa e estética na obra, além da inventiva utilização dos movimentos de câmera, que marcariam de forma mais acentuada seu filme posterior Apocalypto, Apocalypto (2006).

Conhecido por encarnar caras durões no cinema entre os quais vale destacar o policial Harry Callahan na série de filmes Dirty Harry, produzidos nas décadas de 70 e 80, além de protagonizar anti-heróis como o Homem Sem Nome da Trilogia dos Doláres nos filmes western spaghetti de Sérgio Leone dos anos 60, Clint Eastwood pode ser considerado o ator que melhor se adaptou à função de diretor. A estréia atrás das câmeras se deu com o suspense Perversa Paixão, Play Misty for Me (1971). De lá para cá, Eastwood dirigiu, produziu e protagonizou inúmeros filmes constantemente elogiados pela crítica e com relativo sucesso de público. Recebeu por duas ocasiões o Oscar de Melhor Diretor pelo altamente recomendável faroeste Os Imperdoáveis, Unforgiven (1992) que também recebeu a estatueta como Melhor Filme e o drama Menina de Ouro, Million Dollar Baby (2004). O longa ainda levou o Oscar de Melhor Filme, Melhor Atriz para Hillary Swank e Ator Coadjuvante para Morgan Freeman. Além dos prêmios da Academia o longa recebeu o César (o Oscar do cinema francês) de Melhor Filme Estrangeiro. Ainda por outras duas ocasiões, Eastwood foi premiado com o César pelos filmes Sobre Meninos e Lobos, Mystic River (2003) e Gran Torino, Gran Torino (2008).

O norte-americano, hoje com 84 anos, continua em plena atividade produzindo, atuando e dirigindo pelo menos um filme por ano. Recentemente estreou em lançamento simultâneo nos Estados Unidos, Europa e Brasil, Jersey Boys – Em Busca da Música, Jersey Boys (2014), o novo longa do octogenário diretor americano baseado no musical da Broadway de mesmo nome e vencedor do Tony Award, o maior prêmio do teatro nos Estados Unidos, equivalente ao Oscar no cinema, o Grammy na música e o Emmy na televisão, entregue anualmente na cidade de Nova Iorque.

O filme se passa na década de 1950, quando o ítalo-americano Tommy DeVito divide seu tempo entre cometer pequenos furtos e comandar uma banda. Ele é amigo do jovem e talentoso Frankie Valli que é convidado para se juntar ao grupo musical. Com a entrada do compositor Bob Gaudio e ao lado do baixista Nick Massi, os quatro rapazes do subúrbio de Nova Jersey, formam uma das mais bem-sucedidas bandas dos anos 1960, o The Four Seasons, responsável por hits como “Sherry”, “Big Girls Don’t Cry”, “Walk Like a Man” e “Can’t Take My Eyes Off You”. O longa retrata a ascensão e queda do quarteto, além das brigas internas e as relações obscuras com a Máfia.

Esta não é a primeira vez que Eastwood flerta com a música no cinema. O norte-americano dirigiu o longa intitulado Bird, Bird (1988) baseado na biografia do músico Charles Parker, um dos mais famosos saxofonistas do jazz.

Geralmente os filmes biográficos não oferecem grandes desafios para os diretores, que não   tendem a fugir do contexto e das características que envolvem os personagens reais. Contudo, e apesar deste engessamento que tal desafio impõe, Eastwood mostrou-se inovador ao aproximar os atores da platéia, quando coloca os mesmos falando para a câmera no momento em que narram trechos da história. Assim, o cineasta estabelece uma cumplicidade maior entre emissor e receptor, quebrando dessa maneira, a barreira existente entre os interlocutores proporcionada pelo cinema.

Talvez o grande problema, não só do recente trabalho de Eastwood, mas de outros tantos que  optaram por transpor para às telas histórias com personagens reais, seja o de recontar o que já foi contado. Sem dúvida, esse é o maior desafio para os realizadores, que na maioria das vezes apenas recriam em imagens o que os seus biografados viveram, sem contribuir com qualquer tipo de inovação, seja ela no âmbito estético ou intelectual da obra. A inventividade na criação de se recontar o que todos já sabem, sem desfigurar a trajetória de vida do biografado é fundamental para se compor um trabalho interessante e consistente. Embora, Eastwood tenha adotado um meio de comunicação mais intimo entre os atores e o público, seu último trabalho peca pelas limitações impostas pelo gênero.

Além do que, Eastwood deveria ter se contido um pouco mais. Fica evidente que o filme deveria ter encerrado na seqüência em que o quarteto se reúne, após mais de vinte anos separados, para uma apresentação em 1990, à título de inclusão no Rock and Roll Hall of Fame, na cidade de Nova Iorque. Não contente, Eastwood alonga o final e em meio à apresentação da banda, os integrantes falam à frente da câmera, numa espécie de depoimento. E como não bastasse,  o diretor norte-americano finaliza o longa com uma seqüência à la Broadway, quando todo o elenco dança um número musical, que beira à certa altura, o ridículo.

Excessos como estes que tornam o filme de Eastwood apenas razoável para o gênero. De fato poderia ter sido pior se não fosse pelo elenco, que embora sem nomes e rostos conhecidos, à exceção de Christopher Walken, que interpreta Angelo “Gyp” DeCarlo, membro da família mafiosa que comandava o crime organizado em Nova Jersey durante os anos 1960. Vale destacar também a competente direção de arte na recriação da época em que se passa a história. Do contrário, o filme poderia ter amargado um grande fracasso.

(Pedro Giaquinto)

Com um elenco de atores competentes, cineasta britânica retrata o preconceito racial da aristocracia inglesa do Séc. XVIII

Gugu Mbatha-Raw Sarah Gadon

De tempos em tempos, um razoável número produções com uma temática específica invade, quase que simultaneamente, os cinemas. Dos  escritos bíblicos às adaptações dos famosos HQs de super-heróis passando por temas delicados como a questão racial e os terrores das guerras mundiais são muitos os filmes que dividem a atenção entre o público e a crítica.

No segundo semestre do ano passado, ainda no fervor das notícias sobre o estado de saúde do líder sul-africano o presidente Nelson Mandela, três longas-metragens que tinham como tema principal o racismo foram lançados em intervalos muito curtos entre eles e que culminou com as nove indicações ao Oscar para o premiado longa-metragem dirigido pelo britânico Steve McQueen, 12 Anos de Escravidão, 12 Years a Slave (2013). O filme levou três prêmios: melhor atriz coadjuvante, roteiro adaptado e melhor filme. Foi a primeira vez na história da Academia que um filme de um diretor negro conquistou a estatueta. As outras produções foram O Mordomo da Casa Branca, The Butler (2013) e Mandela, Mandela: Long Walk to Freedom (2013).

Belle, Belle (2013) lançado no último final de semana no Reino Unido e República da Irlanda é outro filme que tem como tema principal a questão racial. Embora, lançando em circuito comercial somente no final do primeiro semestre de 2014, Belle faz parte dos filmes como a mesma temática produzidos e lançados no ano passado. A estréia do filme se deu no Festival Internacional de Cinema de Toronto ou também conhecido como TIFF (sigla em inglês para Toronto International Film Festival), considerado um dos mais importantes festivais da indústria cinematográfica mundial ao lado dos festivais de Cannes, Veneza e Berlim.

Belle conta a história de Dido Elizabeth Belle, filha do capitão britânico John Lindsay com uma escrava africana. Após a morte da mãe, Dido vai morar na Inglaterra com o tio, Lorde Mansfield, para ser criada como uma dama da aristocracia. A jovem se apaixona pelo aspirante a advogado John Davinier, mas esse relacionamento irá enfrentar os preconceitos da sociedade inglesa. O longa foi inspirado e baseado na história verdadeira por detrás da pintura de 1779 em que Dido Elizabeth Belle posa ao lado de sua prima Lady Elizabeth Murray em Kenwood House. O filme conta ainda com um elenco de rostos conhecidos do grande público entre eles os britânicos Tom Wilkinson, Emily Watson e Miranda Richardson. A personagem título é interpretada pela também britânica Gugu Mbatha-Raw.

O filme é dirigido pela filha de imigrantes ganeses e ex-atriz e roteirista, a britânica Amma Asante. Belle é o segundo filme dirigido por Asante, que havia estreado na direção de longa-metragens com o filme A Way of Life (2004).  Como atriz, Asante realizou algumas participações em séries TV, entre as quais pode-se destacar: Birds of a Feather (1989-1998) com duas participações. A série originalmente realizada pela BBC One, retornou no início desde ano pelo canal ITV. Asante ainda participou de apenas um episódio da série intitulada Desmond’s (1989-1994). Sem dúvida, seu trabalho com maior destaque tenha sido na série Grange Hill (1978-2008), uma das séries que mais tempo permaneceu no ar na televisão britânica. Ao todo, a participação de Asante contabilizou 32 episódios entre os anos de 1986-87.

Dez anos depois desde seu primeiro longa-metragem como diretora, Asante retorna com um filme de época, completamente diferente de sua primeira experiência, que retratava a complicada vida de uma adolescente mãe solteira envolvida em pequenos delitos praticados com seu irmão e amigos, além de conviver dia após dia, com o medo de perder a guarda da filha para o serviço social.

Em Belle, a cineasta retorna no tempo, mais precisamente no século 18 para tratar de um tema que infelizmente nunca deixará de ser debatido: o preconceito racial. Embora, Asante centralize a ação acerca do tema existente dentro de uma determinada família aristocrata inglesa, o filme pretende reviver um dos episódios, entre muitos que se tem conhecimento, mais tristes e desumanos da história da escravidão. E é entre uma e outra seqüência onde são retratados os problemas enfrentados pela personagem vivida por Mbatha-Raw, que o filme de Asante relata, não por meio de imagens, e sim pelo tumultuado relacionamento entres os personagem do juiz Lorde Mansfield e do aspirante advogado John Davinier, o chocante e cruel episódio que ficou conhecido como o Massacre de Zong.

Em 29 de Novembro de 1781, o capitão do navio negreiro Zong, Luke Collingwood, ordenou que um terço de sua carga fosse jogada ao mar. Collingwood se referia aos 142 escravos africanos com destino à Jamaica.  O motivo: receber o seguro. O caso foi levado ao tribunal, não pelo assassinato, mas contra as seguradoras que se recusaram a pagar o seguro.

À parte da barbárie ocorrida no triste evento acima citado, Belle traz ainda as questões do casamento, moralidade e status financeiro e social impregnados no modo de vida da sociedade inglesa aristocrata. É impossível não se lembrar das adaptações para o cinema das obras da escritora inglesa Jane Austen entre eles, Razão e Sensibilidade, Sense and Sensibility (1995), dirigido por Ang Lee e com roteiro de Emma Thompson e Orgulho e Preconceito, Pride and Prejudice (2005), dirigido por Joe Wright.

Asante, embora, apoiada por um elenco de atores competentes, realiza um filme sóbrio com  direção competente para um gênero que traz muitos desafios à profissão no que concerne ao difícil trabalho para se recriar uma determinada época histórica. Vale destacar também a belíssima trilha sonora composta por Rachel Portman, conhecida por seu trabalho em filmes como Chocalate, Chocolat (2000) e Regras da Vida, The Cider House Rules (1999) pelos quais foi indicada ao Oscar de Melhor Trilha Sonora Original. Prêmio que levou pelo filme Emma, Emma (1996), se transformando na primeira compositora feminina a consquitar a estatueta.

Para os amantes dos filmes de época, Belle não deixa de ser uma excelente oportunidade para conferir um bom filme do gênero.

O filme ainda não tem previsão de estréia no Brasil.

(Pedro Giaquinto)

 

A combinação perfeita entre diretor e ator

Locke

Entreter um grupo de pessoas confinadas à uma sala de cinema, não é uma das tarefas mais fáceis do mundo para um cineasta. Um filme com belos rostos e corpos malhados, um roteiro sem muita complexidade que intercale momentos de ação, comédia e romance e uma trilha sonora preferencialmente recheada com sucessos da atualidade seriam, de certa maneira, a receita mais rápida e eficaz para se criar um filme, que agradará o público em geral além é claro, de não trazer dores de cabeça para o diretor ou o estúdio que o produziu.

Porém, alguns diretores se arriscam perigosamente na escolha estética de seus filmes e confiam completamente na sua capacidade de envolver o público com suas histórias, utilizando, em alguns casos, um único personagem. Este, apoiado por elementos externos como conversas via telefone ou vislumbres em forma de sonhos ou distúrbios psicológicos que projetam seus medos e desejos, criarão as condições adequadas para o desenvolvimento da história.

Colocar um homem vivo em um caixão de madeira e à partir daí contar uma história com  pouco mais de uma hora e meia, não é para qualquer um. O cineasta espanhol Rodrigo Cortés é um desses audaciosos que se aventuram a transcrever para as telas  “monólogos cinematográficos”. Em Enterrado Vivo, Burried (2010), Paul Conroy (Ryan Reynolds) é um americano que trabalha como motorista de caminhão no Iraque. Ele acorda e sem saber como, está enterrado vivo dentro de caixão de madeira. Ele tem em suas mãos apenas um telefone celular e um isqueiro. Outro exemplo é 127 Horas, 127 Hours (2010), estrelado por James Franco e dirigido por Danny Boyle, do premiado Quem Quer ser um Milionário?, Slumdog Millionaire (2008).  O filme é baseado na autobiografia do alpinista Aron Ralston, que teve seu braço preso entre duas rochas, e lutou por sua sobrevivência durante 5 dias. O longa conquistou seis indicações ao Oscar.

Estreiou em Abril passado no Reino Unido e Estados Unidos e ainda sem previsão de estréia no Brasil, outro filme que traz como característica principal um personagem solitário cercado por um emaranhado de problemas, tendo que solucioná-los de uma maneira ou de outra. Locke, Locke (2013) conta a história de Ivan Locke (Tom Hardy), um homem que tem um importante cargo na construção civil. Certo dia, ao deixar o trabalho, Locke recebe um telefonema e a partir de então inicia uma viagem de carro entre Birmingham e Londres. No decorrer da jornada, Locke terá que solucionar problemas de ordem pessoal e profissional, enquanto tem conversas imaginárias com o seu pai falecido. O filme foi apresentado fora de competição no 70th Festival Internacional de Cinema de Veneza.

Locke é o segundo longa-metragem dirigido e escrito pelo britânico Steven Knight. Knight é conhecido na indústria cinematográfica britânica por sua contribuição como roteirista. Iniciou sua carreira escrevendo alguns episódios para a série de televisão exibida na BBC intitulada The Detectives (1993-1197).  Em 1998, criou o game show Who Wants to Be Millionaire?, que oferecia prêmios em dinheiro para os seus participantes. No cinema, o britânico escreveu o roteiro de Coisas Belas e Sujas, Dirty Pretty Things (2003), que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de Melhor Roteiro Original no ano seguinte. O filme foi dirigido por Stephen Frears e estrelado por Chiwetel Ejiofor e Audrey Tautou, que eternizou a personagem título do filme francês dirigido por Jean-Pierre Jeunet, O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, Le Fabuleux Destin d’Amélie Poulain (2001). Knight ainda roterizou, entre outros, Jornada para a Liberdade, Amazing Grace (2006) e Senhores do Crime, Eastern Promises (2007), dirigido pelo renomado e cult diretor canadense David Cronenberg.

A estréia de Knight na direção de longas, se deu no ano passado com o fraco Redenção, Hummingbird (2013), estrelado pelo ator do gênero porrada Jason Statham, conhecido por atuar em filmes de ação como Os Mercenários I e II, The Expendables I,II (2010, 2012), Os Especialistas, Killer Elite (2011), entre muitos outros.

Knight realmente surpreende com a mudança de gênero e estética em seu segundo longa como diretor. Seria, de certa maneira, confortável realizar um outro filme de ação com acrobáticas seqüências de lutas, mas Knight decidiu experimentar algo diferente e acertou em sua escolha. O britânico apresenta um filme enxuto, com um roteiro bem amarrado e uma interpretação segura e eficaz de Tom Hardy, o único ator em cena durante o filme. Os demais atores funcionam como suporte para o personagem de Hardy, que durante toda a projeção alternam-se nas conversas ao telefone.

Vale notar que a exemplo do filme Tempo Esgotado, Nick of Tiime (1995), estrelado por Jonhhy Deep, Locke é narrado em tempo real, ou seja, cada minuto do filme equivale a um minuto real. No filme de 1995, o personagem de Deep tinha uma hora e meia, a duração do filme, para salvar sua filha de seis anos das mãos de seqüestradores. Em Locke, o personagem título demorará aproximadamente o tempo do filme numa viagem de carro entre as cidades de Birmingham e Londres.

Knight demonstra habilidade em nos apresentar tranquilamente cada personagem e nos dá a chance para conhecê-los aos poucos, transformando-nos em seus cúmplices e ouvintes, ao mesmo tempo em que compartilham suas dores e problemas. É surpreendente que, embora os personagens não estejam em cena fisicamente, em nenhum momento perde-se o interesse pela filme. Ao contrário, a espera por novas informações mantêm o público atento a cada troca de diálogo entre eles e o personagem título.

Se o filme arrancou elogios da crítica, méritos também para o excelente desempenho do ator britânico, Tom Hardy, que tem uma interpretação soberba, lúcida e equilibrada. Sem cometer excessos na composição de seu personagem, Hardy comanda com maestria sua atuação, intercalando momentos de um contido desespero e o arrependimento silencioso e agonizante de um homem íntegro que, por infelicidade do destino, cometeu um deslize que colocou em risco sua vida conjugal e profissional. O ator britânico tornou-se conhecido do grande público por suas atuações nos filmes A Origem, Inception (2010) e Batman: O Cavalheiro das Trevas Resurge, The Dark Knight Rises (2012) no qual interpretou o vilão Bane. Ambos os filmes foram dirigidos pelo também britânico Christopher Nolan.

E justiça seja feita: em seu recente filme Knight se redimi do fiasco de sua estréia na direção de longas-metragens e mostra-se pronto para novos desafios. Tom Hardy, por sua vez, foi escalado para viver o personagem Max Rockatansky, mais conhecido como Mad Max em Mad Max: Fury Road, previsto para 2015 com direção de George Miller, responsável pelos três primeiros filmes da cine série, que lançou Mel Gibson ao estrelato e que apenas confirmará Tom Hardy como o novo astro do cinema mundial.

(Pedro Giaquinto)

Tom Cruise em mais do mesmo

Nos tempos atuais em que Robert Pattinson, protagonista dos filmes da série Crepúsculo e Zac Efron, conhecido por protagonizar a franquia High School Musical são, entre outros, considerados os bonitões de Hollywood, capazes de enlouquecer as adolescentes mundo afora e responsáveis por levar um grande público feminino aos cinemas. Se, por um lado não agradam a crítica especializada por estrelarem filmes de conteúdo duvidoso, por outro lado fazem a alegria dos grandes estúdios, que enchem seus cofres filme a filme com o faturamento das bilheterias e outros produtos que, durante o tempo de exibição nos cinemas ou posteriormente, venham a ser comercializados em decorrência do sucesso das produções.

A verdade é, toda a década trouxe ao cinema atores que conseguiram se estabelecer no mainstream, mais pela beleza do que pelo talento. O talento, na maioria das vezes, é colocado em segundo plano. Para alguns, o tempo de trabalho e a escolha de personagens bem construídos lhes permitirão mostrar se têm ou não vocação para o oficio. Outros porém, serão eternamente um rostinho bonito e nada mais. Exemplos se encontram aos montes. Mattew McConaughey é um deles. Há praticamente duas décadas foi lançado no cinema e logo atingiu o status de galã devido sua beleza e carisma frente o público feminino. Sua carreira poderia ter sido resumida como a do ator de comédias românticas que tira o fôlego das mulheres nas salas de cinema. McConaughey, no entanto, virou a mesa e a partir da década passada começou a escolher personagens que lhe proporcionaram condições apropriadas para que pudesse mostrar uma maior versatilidade como ator. Hoje, vencedor de inúmeros prêmios pelos seus trabalhos e recentemente vencedor do Oscar de Melhor Ator por sua primorosa caracterização de um eletricista diagnosticado com AIDS no filme Clube de Compras Dallas, Dallas Buyers Club (2013), McConaughey é considerado um ator no qual a beleza sucumbiu ao talento.

Na década de 80 foram muitos os rostinhos bonitos que surgiram no cinema. Francis Ford Coppola, diretor de obras-primais entre elas, a trilogia O Poderoso Chefão I,II e III, The Godfather I, II, III (1972, 1974, 1990), baseados no romance de Mario Puzo e Apocalypse Now, Apocalypse Now (1979), foi o responsável por reunir no filme Vidas sem Rumo, The Outsiders (1983) as grandes promessas do cinema para a década que se iniciava. Entre os novos rostos que despontavam no cinema com possibilidades de figurar entre os novos galãs da época, estavam: Ralph Macchio, C. Thomas Howell, Matt Dillon, Rob Lowe, Emilio Estevez, Patrick Swayze e Tom Cruise. Enquanto, a maioria deles optou por estabelecer carreira na televisão, Tom Cruise foi definitivamente, o único entre eles, que tenha construído ao longo dos anos uma sólida e reconhecida carreira no cinema.

O ator, que já trabalhou com diretores renomados, entre eles Neil Jordan, Steven Spielberg, Oliver Stone, Martin Scorcese e o mestre Stanley Kubrick é hoje um dos poucos produtores em Hollywood capaz de garantir o sucesso de uma franquia cinematográfica. Junta-se a ele nomes como o do já citado Spielberg, George Lucas e Jerry Bruckheimer.

Cruise ganhou reconhecimento internacional depois do sucesso de público e crítica do filme Top Gun – Asas Indomáveis, Top Gun (1986) no qual interpretava um piloto de caça da Marinha dos Estados Unidos que é selecionado para participar do curso da Navy Fighter Weapons School ou Top Gun. Lá se envolve com Charlie, interpretada por Kelly McGillis, instrutora na escola. De lá para cá, Tom Cruise foi colecionando sucessos comerciais em filmes de ação até culminar na franquia bilionária Missão Impossível, no qual além de atuar é também o produtor. A franquia já rendeu quatro filmes. E quando não está na pele do agente secreto Ethan Hunt, e entre o intervalo de um e outro filme de ação, Cruise tem se especializado nos filmes do gênero ficção científica. Desde Vanilla Sky, Vanilla Sky (2001) dirigido e escrito por Cameron Crowe e produzido e protagonizado por Cruise, foram quatro filmes do gênero.

É notório que o ator e produtor tenha tomado gosto pelos filmes do gênero. Um ano após seu último filme, Oblivion, Oblivion (2013), também uma ficção cientifica, chega aos cinemas  em lançamento mundial o mais recente filme de Tom Cruise, No Limite do Amanhã, Edge of Tomorrow (2014). Na nova produção, Cruise é Bill Cage, um relações públicas das Forças Armadas dos Estados Unidos, que é obrigado a ir para a linha de frente quando a Terra é tomada por alienígenas. Inexplicavelmente ele acaba preso no tempo, condenado a reviver esta data repetidamente. A cada morte e renascimento, Cage avança e, antecipando os acontecimentos, tem a chance de mudar o curso da batalha com o apoio da guerreira Rita Vrataski (Emily Blunt).  A direção ficou por conta de Doug Liman, que tem no currículo filmes como A Identidade Bourne, The Bourne Identity (2002) e Sr. & Sra. Smith, Mr. & Mrs. Smith (2005)

O novo trabalho de Cruise pode ser definido facilmente como uma mistura de O Feitiço do Tempo, Groundhog Day (1993) onde o personagem de Bill Murray encontrava-se preso no tempo, fadado a repetir o mesmo dia várias vezes, o híbrido entre humano e máquina do personagem de Matt Damon em Elysium, Elysium (2013) e um final que remete à interminável e tediosa batalha contra os sentinelas em Matrix Revolutions, The Matrix Revolutions (2003).

Novamente Cruise não acerta na sua escolha. No Limite do Amanhã aposta todas as suas fichas nos efeitos especiais e esquece de contar uma história pelo menos satisfatória. Com um roteiro  fraco, explicações teóricas inconsistentes sobre a razão pela qual o personagem de Cruise está preso no tempo e repleto de referências de outros filmes, como os já citados acima. E pasmem, a personagem de Emily Blunt é conhecida pelo nome de Full Metal Bitch, uma alusão ao título original do filme Full Metal Jacket de 1987 dirigido por Stanley Kubrick, que no Brasil recebeu o nome de Nascido para Matar. É por essas e outras que o filme não decola.

E Tom Cruise confirma mais uma vez que não consegue emplacar bons trabalhos como ator desde Nascido em 4 de Julho, Born on Fourth of July (1989), dirigido por Oliver Stone, filme que lhe valeu uma indicação ao Oscar de Melhor Ator daquele ano.

Se a carreira como ator demonstra sinais de cansaço, Cruise jamais poderá reclamar da carreira como produtor. Parceiros de longa data, Tom Cruise e a agente de atores Paula Wagner são sócios na Cruise/Wagner Productions desde 1993, e ambos já estão em produção para o quinto filme da série Missão Impossível e galinha dos ovos de ouro da dupla, que deverá ser lançado nos cinemas já no ano que vem. Além do novo filme da série, outros dois filmes já foram anunciados: o segundo filme de Jack Reacher com o título provisório de Jack Reacher: Never Go Back e a sequência do badalado filme dos anos 80 Top Gun. Por enquanto, Cruise não precisa se preocupar com o desempenho de sua carreira como ator, ao que parece, o emprego  como produtor está mais do que garantido.

(Pedro Giaquinto)