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Tom Cruise em mais do mesmo

Nos tempos atuais em que Robert Pattinson, protagonista dos filmes da série Crepúsculo e Zac Efron, conhecido por protagonizar a franquia High School Musical são, entre outros, considerados os bonitões de Hollywood, capazes de enlouquecer as adolescentes mundo afora e responsáveis por levar um grande público feminino aos cinemas. Se, por um lado não agradam a crítica especializada por estrelarem filmes de conteúdo duvidoso, por outro lado fazem a alegria dos grandes estúdios, que enchem seus cofres filme a filme com o faturamento das bilheterias e outros produtos que, durante o tempo de exibição nos cinemas ou posteriormente, venham a ser comercializados em decorrência do sucesso das produções.

A verdade é, toda a década trouxe ao cinema atores que conseguiram se estabelecer no mainstream, mais pela beleza do que pelo talento. O talento, na maioria das vezes, é colocado em segundo plano. Para alguns, o tempo de trabalho e a escolha de personagens bem construídos lhes permitirão mostrar se têm ou não vocação para o oficio. Outros porém, serão eternamente um rostinho bonito e nada mais. Exemplos se encontram aos montes. Mattew McConaughey é um deles. Há praticamente duas décadas foi lançado no cinema e logo atingiu o status de galã devido sua beleza e carisma frente o público feminino. Sua carreira poderia ter sido resumida como a do ator de comédias românticas que tira o fôlego das mulheres nas salas de cinema. McConaughey, no entanto, virou a mesa e a partir da década passada começou a escolher personagens que lhe proporcionaram condições apropriadas para que pudesse mostrar uma maior versatilidade como ator. Hoje, vencedor de inúmeros prêmios pelos seus trabalhos e recentemente vencedor do Oscar de Melhor Ator por sua primorosa caracterização de um eletricista diagnosticado com AIDS no filme Clube de Compras Dallas, Dallas Buyers Club (2013), McConaughey é considerado um ator no qual a beleza sucumbiu ao talento.

Na década de 80 foram muitos os rostinhos bonitos que surgiram no cinema. Francis Ford Coppola, diretor de obras-primais entre elas, a trilogia O Poderoso Chefão I,II e III, The Godfather I, II, III (1972, 1974, 1990), baseados no romance de Mario Puzo e Apocalypse Now, Apocalypse Now (1979), foi o responsável por reunir no filme Vidas sem Rumo, The Outsiders (1983) as grandes promessas do cinema para a década que se iniciava. Entre os novos rostos que despontavam no cinema com possibilidades de figurar entre os novos galãs da época, estavam: Ralph Macchio, C. Thomas Howell, Matt Dillon, Rob Lowe, Emilio Estevez, Patrick Swayze e Tom Cruise. Enquanto, a maioria deles optou por estabelecer carreira na televisão, Tom Cruise foi definitivamente, o único entre eles, que tenha construído ao longo dos anos uma sólida e reconhecida carreira no cinema.

O ator, que já trabalhou com diretores renomados, entre eles Neil Jordan, Steven Spielberg, Oliver Stone, Martin Scorcese e o mestre Stanley Kubrick é hoje um dos poucos produtores em Hollywood capaz de garantir o sucesso de uma franquia cinematográfica. Junta-se a ele nomes como o do já citado Spielberg, George Lucas e Jerry Bruckheimer.

Cruise ganhou reconhecimento internacional depois do sucesso de público e crítica do filme Top Gun – Asas Indomáveis, Top Gun (1986) no qual interpretava um piloto de caça da Marinha dos Estados Unidos que é selecionado para participar do curso da Navy Fighter Weapons School ou Top Gun. Lá se envolve com Charlie, interpretada por Kelly McGillis, instrutora na escola. De lá para cá, Tom Cruise foi colecionando sucessos comerciais em filmes de ação até culminar na franquia bilionária Missão Impossível, no qual além de atuar é também o produtor. A franquia já rendeu quatro filmes. E quando não está na pele do agente secreto Ethan Hunt, e entre o intervalo de um e outro filme de ação, Cruise tem se especializado nos filmes do gênero ficção científica. Desde Vanilla Sky, Vanilla Sky (2001) dirigido e escrito por Cameron Crowe e produzido e protagonizado por Cruise, foram quatro filmes do gênero.

É notório que o ator e produtor tenha tomado gosto pelos filmes do gênero. Um ano após seu último filme, Oblivion, Oblivion (2013), também uma ficção cientifica, chega aos cinemas  em lançamento mundial o mais recente filme de Tom Cruise, No Limite do Amanhã, Edge of Tomorrow (2014). Na nova produção, Cruise é Bill Cage, um relações públicas das Forças Armadas dos Estados Unidos, que é obrigado a ir para a linha de frente quando a Terra é tomada por alienígenas. Inexplicavelmente ele acaba preso no tempo, condenado a reviver esta data repetidamente. A cada morte e renascimento, Cage avança e, antecipando os acontecimentos, tem a chance de mudar o curso da batalha com o apoio da guerreira Rita Vrataski (Emily Blunt).  A direção ficou por conta de Doug Liman, que tem no currículo filmes como A Identidade Bourne, The Bourne Identity (2002) e Sr. & Sra. Smith, Mr. & Mrs. Smith (2005)

O novo trabalho de Cruise pode ser definido facilmente como uma mistura de O Feitiço do Tempo, Groundhog Day (1993) onde o personagem de Bill Murray encontrava-se preso no tempo, fadado a repetir o mesmo dia várias vezes, o híbrido entre humano e máquina do personagem de Matt Damon em Elysium, Elysium (2013) e um final que remete à interminável e tediosa batalha contra os sentinelas em Matrix Revolutions, The Matrix Revolutions (2003).

Novamente Cruise não acerta na sua escolha. No Limite do Amanhã aposta todas as suas fichas nos efeitos especiais e esquece de contar uma história pelo menos satisfatória. Com um roteiro  fraco, explicações teóricas inconsistentes sobre a razão pela qual o personagem de Cruise está preso no tempo e repleto de referências de outros filmes, como os já citados acima. E pasmem, a personagem de Emily Blunt é conhecida pelo nome de Full Metal Bitch, uma alusão ao título original do filme Full Metal Jacket de 1987 dirigido por Stanley Kubrick, que no Brasil recebeu o nome de Nascido para Matar. É por essas e outras que o filme não decola.

E Tom Cruise confirma mais uma vez que não consegue emplacar bons trabalhos como ator desde Nascido em 4 de Julho, Born on Fourth of July (1989), dirigido por Oliver Stone, filme que lhe valeu uma indicação ao Oscar de Melhor Ator daquele ano.

Se a carreira como ator demonstra sinais de cansaço, Cruise jamais poderá reclamar da carreira como produtor. Parceiros de longa data, Tom Cruise e a agente de atores Paula Wagner são sócios na Cruise/Wagner Productions desde 1993, e ambos já estão em produção para o quinto filme da série Missão Impossível e galinha dos ovos de ouro da dupla, que deverá ser lançado nos cinemas já no ano que vem. Além do novo filme da série, outros dois filmes já foram anunciados: o segundo filme de Jack Reacher com o título provisório de Jack Reacher: Never Go Back e a sequência do badalado filme dos anos 80 Top Gun. Por enquanto, Cruise não precisa se preocupar com o desempenho de sua carreira como ator, ao que parece, o emprego  como produtor está mais do que garantido.

(Pedro Giaquinto)