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A merecida homenagem do cinema à uma das mais célebres mentes do nosso século

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Incontáveis foram as adaptações biográficas para o cinema de grandes personalidades da história. Desde personagens bíblicos à imperadores da antiguidade passando por políticos, ativistas e artistas das mais diferentes áreas, já se levou às telas uma infinita gama de pessoas das mais diversas áreas da sociedade.

Em geral, estas personalidades carregam um rico conteúdo biográfico, seja por seus atos heróicos, pela visão à frente de seu tempo, os escândalos ou as mortes prematuras no auge do sucesso ou pelo fato de terem sido vilões ou assassinos que comoveram multidões pelas atrocidades cometidas. Muitas destas personalidades conseguiram presenciar em vida a homenagem que o cinema de uma maneira ou de outra prestou-lhes. Outros não.

O  pastor protestante e ativista político norte-americano Martin Luther King Jr., assassinado no final da decada de 60 é um deles. Evidentemente nessa época Luther King não imaginava que episódios de sua vida se transformariam em filme. Em Selma, Uma Luta pela Igualdade, Selma (2014) com lançamento previsto no Brasil para início de Fevereiro, acompanha as históricas marchas realizadas por ele e manifestantes pacifistas em 1965, entre a cidade de Selma, no interior do Alabama, até a capital do estado, Montgomery, em busca de direitos eleitorais iguais para a comunidade afro-americana.

Outro que não teve tempo para assistir sua trajetória vitoriosa no mundo do automobilismo retratada no cinema, devido sua trágica morte, foi o piloto brasileiro de Formula 1 e três vezes campeão mundial Ayrton Senna, no documentário Senna (2010), dirigido pelo cineasta britânico Asif Kapadia.

No entanto, muitos conseguiram presenciar suas vidas eternizarem-se no cinema. É o caso do matemático norte-americano e vencedor do Nobel de Economia John Nash, hoje com 86 anos, diagnosticado com esquizofrenia.

O cineasta Ron Howard conhecido por filmes como Cocoon (1985), Apollo 13 – Do Desastre ao Triunfo, Apollo 13 (1995) e Código Da Vinci, The Da Vinci Code (2006), levou para o cinema a história do matemático vivido pelo ator australiano Russell Crowe no bom e premiado Uma Mente Brilhante, A Beautiful Mind (2001).

A mais ilustre personalidade da vez, que teve sua vida transformada em filme, foi o físico e cosmólogo britânico Stephen Hawking.

Estreiou no inicio do mês na Irlanda e Reino Unido e com estréia prevista no Brasil para esta sexta-feira, A Teoria de Tudo, The Theory of Everything (2014) baseado na biografia do astrofísico. O filme mostra como o jovem Hawking, vivido por Eddie Redmayne, fez descobertas importantes sobre o tempo, além de retratar o seu romance com a aluna de Cambridge Jane Wide (Felicity Jones) e a descoberta de uma doença motora degenerativa quando tinha apenas 21 anos.

O responsável por retratar a vida de Hawking no cinema é o escritor e roteirista Neo-zelandês Anthony McCarten, que se interessou pela vida do astrofísico depois de ler o best-seller Uma Breve História do Tempo: do Big Bang aos Buracos Negros, A Brief History of Time: From the Big Bang to Black Holes (1988), escrito pelo próprio Hawking. Anos depois, McCarten adaptou o livro Viagem ao Infinito: A Extraordinária História de Jane e Stephen Hawking, Travelling to Infinity: My Life with Stephen (2008), escrito pela primeira mulher de Hawking, Jane Wilde. Além de assinar o roteiro, McCarten também assina a produção do longa.

James Marsh foi incumbido de dirigir a obra. O cineasta britânico é o responsável pelo premiado e altamente recomendado documentário O Equilibrista, Man on Wire (2008) que conta a façanha, do então jovem francês Phillippe Petit, que na década de 1970 com a ajuda de um grupo de amigos, andou durante uma hora sobre um cabo de ferro suspenso entre as duas torres do World Trade Center, em Nova Iorque, sem qualquer equipamento ou rede de segurança. O documentário se consagrou em diversos festivais levando inúmeros prêmios entres eles o Grande Prêmio do Juri no Sundance Festival, o Bafta e Oscar de Melhor Documentário.

Antes de A Teoria de Tudo, Marsh dirigiu o regular Agente C – Dupla Identidade, Shadow Dancer (2012) sobre uma ativista do IRA (Exército Republicano Irlandês) que após um atentado à bomba em Londres acaba por cair nas mãos de um policial do MI5 (Serviço Britânico contra-espionagem). À partir daí ela se torna uma espécie de agente-dupla à serviço da inteligência britânica.

Coube ao ator britânico Eddie Redmayne a responsabilidade de dar vida ao astrofísico Hawking. Embora, Redmanyne não tenha feito personagens de destaque no cinema, o jovem ator tem construído ao  longo dos anos uma premiada carreira no teatro, tendo vencido um Oliver e um Tony Award por Melhor Ator Coadjuvante para a adaptação teatral da peça Red escrita por John Logan, que no cinema roteirizou inúmeros filmes entre eles, O Aviador, The Aviator (2004) e A Invenção de Hugo, Hugo (2011) ambos dirigidos por Martin Scorsese.

Redmayne, apoiado pela também britânica Felicity Jones que interpreta Jane Wilde, primeira mulher de Hawking, dá o ritmo ao filme. O ator personifica brilhantemente o biografado astrofísico britânico, num trabalho corporal e de dicção que beira à perfeição.

Pode se dizer tranquilamente, que o primoroso trabalho de Redmayne, assemelha-se à eximias interpretações poucas vezes vistas no cinema, como por exemplo, a do ator irlandês Daniel Day-Lewis, que interpretou o filho de uma humilde família irlandesa, que acometido desde o nascimento com paralisia cerebral tirando-lhe todos os movimentos do corpo, com a exceção do pé esquerdo. Com o controle deste único membro ele torna-se escritor e pintor.

O filme deu a Day-Lewis projeção internacional e lhe rendeu outros grandes papéis no cinema e inúmeros prêmios. Redmayne, que ganhou diversos prêmios em vários festivais de cinema por sua caracterização como Hawking parece seguir os passos do ator irlandês. O jovem ator britânico recentemente levou o Globo de Ouro para melhor atuação em filme de dramático e concorre no mês que vem ao Oscar como Melhor Ator.

Já a escolha de Marsh para a direção do longa não foi por acaso. O cineasta britânico tem a habilidade em adequar facilmente a trajetória dos seus personagens em perfeita sincronia com a temporalidade histórica na qual estão inseridos, como visto em seus filmes anteriores.

Marsh, em nenhum momento se apressa para contar a história. Não exagera. Com uma direção sóbria e equilibrada, evita acentuar demais o drama do personagem principal, fazendo com que a doença degenerativa do astrofísico não se sobressaía ao homem dotado de uma das mentes mais brilhantes e extraordinárias do mundo moderno.

A Teoria de Tudo, nada mais é do que uma merecida homenagem do cinema à uma das figuras mais importantes da história da humanidade, que contribuiu com incriveis descobertas científicias afim de iluminar as dúvidas que cercam nossa existência.

(Pedro Giaquinto)